Down e a Educação Física

Os Professores de Educação Física antes de lidar com alunos com necessidades educacionais especiais tem que sempre levar em consideração suas limitações para que não comprometa sua integridade física, tomando cuidado para não colocar em risco sua saúde, e também criar estratégias que possibilitem o desenvolvimento destes alunos juntamente com o restante da turma, desta forma a inclusão acontecerá com competência. A Educação Física pode contribuir no processo de desenvolvimento motor de uma pessoa com necessidades especiais, na medida que estruture um ambiente que proporcione vivências motoras capazes de incrementar sua habilidade para solucionar as tarefas apresentadas pelo ambiente social na qual está inserida. Proporcionando assim possibilidades de se movimentar interagindo com seu ambiente físico social, de modo satisfatório às suas necessidades.
Podemos assumir, portanto, que o propósito da Educação Física juntamente com a intervenção do professor é de ampliar e potencializar as possibilidades de participação ativa de pessoas com necessidades especiais, com foco na atividade física e no movimento corporal humano. Para isso precisamos de profissionais e professores realmente capacitados para tal.


ATIVIDADE FÍSICA: QUANDO SIM E QUANDO NÃO


Como não poderia deixar de ser, essas crianças são classificadas em grupo especial, assim, para fazer atividade física, existem algumas características importantes na questão da saúde relacionadas com a atividade para adequar caso a caso,dentre elas:

CARDIOPATIAS CONGÊNITAS - Podem estar presentes em 50% dos casos. A criança deve passar, logo ao nascimento, por um minucioso exame cardiológico a fim de detectar qualquer alteração na estrutura e no funcionamento do coração, que deve ser corrigida o mais breve possível. Os problemas mais comuns são um defeito do canal atrioventricular, a comunicação interventricular ou interatrial e a Tetralogia de Fallot. Mais tarde alguns sinais podem ser indicadores de problemas não manifestados antes, tais como o baixo ganho de peso, desenvolvimento mais lento quando comparada às outras crianças com a mesma síndrome, malformações torácicas, cianose de extremidades e cansaço constante.

As atividades aeróbicas são bem indicadas desde que a criança esteja liberada pelo médico. Caso haja restrições, o profissional de Educação Física deve saber quais são e, se possível, fazendo a troca de informações direta com o médico da criança.



PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS:
Quando não existir impedimentos médicos, a natação é bastante aconselhada por conta de um trabalho preventivo do sistema respiratório. As crianças com a síndrome são suscetíveis a constantes resfriados e pneumonias de repetição por causa de uma predisposição imunológica e da própria hipotonia da musculatura do sistema respiratório. Como o uso repetido de antibióticos é desaconselhável, os exercícios de sopro, a respiração forçada na água e todos que aumentem a resistência cardiorrespiratória são sugeridos, especialmente nos períodos de boa saúde da criança. Como a natação, por si só, não é uma atividade natural do ser humano, tendo que aprender a dominar as características físicas da água para flutuar, se deslocar e respirar, para as crianças com a síndrome já representa mais um desafio, que elas normalmente se adaptam com facilidade. Além disso, associa-se o cuidado com a higiene nasal e manobras que evitem o acúmulo de secreção. A essas crianças não devem ser impostas regras fixas. Através de brincadeiras na água, elas podem estar exercitando o fundamento específico. No caso da natação, deve-se ter também mais cuidado com as possíveis inflamações de ouvido, uma vez que 60 a 80% dessas crianças apresentam rebaixamento auditivo uni ou bilateral, que pode causar desde leves déficits auditivos até aumento de cera no canal do ouvido e acúmulo de secreção.


INSTABILIDADE ATLANTOAXIAL (coluna cervical):
Trata-se de um espaço maior entre a 1ª e 2ª vértebras, respectivamente atlas e áxis, que essas crianças podem apresentar por conta de alterações anatômicas e pela hipotonia dos músculos e ligamentos do pescoço. O exame de raios X a partir de dois anos e meio a três nas posições de flexão, extensão e neutra tira a dúvida e conduz ao tratamento certo. Em função disso, as atividades de impacto e os movimentos bruscos que podem ocorrer no nado golfinho, nas cambalhotas e na equitação são contraindicados. No caso da equitação, as crianças liberadas pelo médico podem e devem praticar, com bons resultados.


TIREOIDE:
A obesidade e o atraso no desenvolvimento geral da criança podem ter como causa o hipotireoidismo, presente em 10% das crianças e entre 13% e 50% dos adultos com a síndrome. Isso tem controle na grande maioria dos casos.


VISÃO :
Os índices apontam que 50% têm dificuldade para enxergar longe e 20% para perto. Nada que não possa ser solucionado desde a infância.


As crianças com síndrome de Down se desenvolvem normalmente se acompanhadas, tratadas e estimuladas cedo. Vários trabalhos mostram que as respostas fisiológicas induzidas pelo exercício físico são semelhantes às das não portadoras e a expectativa de vida aumentou a partir do acesso à informação, ajudando a quebrar o preconceito.



OS DADOS E OS FATOS

Se liberados pelo médico, os portadores de síndrome de Down devem fazer atividade física. Também vimos que, na questão respiratória acompanhada da hipotonia muscular, a natação é aconselhada por não ser uma atividade natural do ser humano, tendo que aprender a dominar as características físicas da água para flutuar, se deslocar e respirar. A respiração requer atividade constante dos músculos escaleno, intercostais internos e externos, ajudando a reverter a hipotonia muscular. Além disso, existe consenso entre os fisiologistas apontando a natação como uma das melhores atividades capazes de desenvolver a capacidade cardiorrespiratória. Essa valência física é essencial para as atividades funcionais do ser humano. Ou seja, andar, correr, brincar, passear, subir escadas, trabalhar e viver normalmente, sem se cansar.

Outra atividade que apresenta ótimos resultados físicos e psíquicos aos portadores da síndrome é a equoterapia. O andar a cavalo induz à execução de movimentos tridimensionais horizontais (direita, esquerda, frente e trás) e verticais (para cima e para baixo), atuando no sistema nervoso profundo responsável pelas noções de equilíbrio, distância e lateralidade, dando à criança confiança e coordenação. Importante: a equoterapia só é permitida ao portador da síndrome que não tenha instabilidade atlantoaxial. No mais, é deixar as crianças se desenvolverem com cuidado, sem exageros e sem preconceito.


ALGUNS DADOS SOBRE A MUSCULAÇÃO E ATIVIDADES GENERALIZADAS

Sabemos que a síndrome de Down tem origem num acidente genético do cromossomo 21, por isso também é denominada trissomia do 21, e que as crianças portadoras, apesar das dificuldades, podem se desenvolver quase naturalmente dependendo das oportunidades a elas ofertadas desde o nascimento. Os estudos nessa área, se comparados com outros, demoraram a ser feitos, pois há algumas décadas ainda se acreditava em má formação do bebê durante a gestação. Hoje se sabe que o acidente genético ocorre durante a formação de uma nova célula ou no momento de sua divisão. Ficou também constatado que as chances do acidente genético aumentam em mães com mais de trinta e cinco anos, pais com mais de cinquenta e cinco ou quando um dos dois, independente da idade, tenha um defeito genético não manifestado, podendo ser herdado pelo filho. Claro, não é uma regra, mas as chances são maiores, como também não serão todos os filhos a herdar a síndrome.

Com todos os recursos da Medicina e da Ciência, hoje é possível detectar a síndrome durante a gestação, mas não a correção ou evitar a manifestação.

A hipotonia caracterizada pela flacidez muscular e ligamentar é um dos problemas que acompanham a criança por toda a vida, mas varia de intensidade caso a caso. Sendo assim, depois de uma profunda avaliação das reais condições físicas e psicológicas da criança e suas limitações, a prescrição de exercícios físicos para a população especial deve seguir critérios rígidos para não causar atrasos no desenvolvimento, mantendo o interesse em alta.

A atividade física é de fundamental importância na qualidade de vida de qualquer ser humano, e nas crianças com a síndrome não é diferente. Vimos de que forma e por que a natação e a equoterapia podem beneficiar o desenvolvimento, assim como a variedade de atividades de acordo com a preferência da criança.


Como a musculação e/ou a ginástica localizada aumentam a resistência muscular, caracterizando-se numa atividade que, pelo menos teoricamente, poderia influenciar de modo positivo na melhora da hipotonia muscular que afeta as crianças com a síndrome, seriam essas atividades indicadas? Teoricamente, sim e existe trabalho publicado pela professora Mestre e Doutoranda em Educação Especial Maria Georgina Marques Tonello, da UFSCar, e colaboradores. Embora o trabalho tenha sido feito com apenas um voluntário, o treinamento promoveu aumento desejado da resistência muscular localizada de todos os grandes grupos musculares envolvidos: peitoral, costas e abdome. Entretanto, também proporcionou alterações em outras medidas antropométricas, tais como o peso corporal, dobra cutânea subescapular, circunferência do tórax, da cintura, do antebraço direito, do quadril e massa magra, o que sugere mais estudos posteriores.

O treinamento da resistência muscular foi priorizado visando a melhora das atividades funcionais do ser humano, que no caso melhoraram: andar, correr, brincar, subir e descer escadas, passear, trabalhar, etc., sem se cansar.

Sabe-se que outro problema que acompanha as crianças com a síndrome é a obesidade com origem na disfunção da tireoide. Sobre isso os professores Hernán Ariel Villagra e Laura Luna Oliva (Espanha) realizaram um grande estudo com 504 crianças de ambos os sexos, com idades variando entre 6 e 17 anos, afetadas com a síndrome, todas alunos de colégios específicos de Educação Especial de comunidades autônomas de Madrid. Eles compararam o índice de gordura corporal entre as crianças que não praticam atividades físicas e as que praticam atividades generalizadas e natação. O resultado mostrou que as do grupo não praticantes têm índices de gordura maior e entre os grupos das atividades generalizadas e natação o índice é menor, com ligeira vantagem para as atividades gerais.

Ficou claro que os problemas de obesidade se acentuam na adolescência entre 15 e 16 anos para ambos os sexos, havendo mais concentração de gordura central, sugerindo incentivo maior de prática de exercícios físicos nessa fase. Sabe-se que a gordura central está relacionada com possíveis problemas cardíacos para qualquer pessoa, imaginem para as portadoras da síndrome. Enfim, como falamos o tempo todo, as crianças com a síndrome de Down necessitam de cuidados, não de isolamento.